chemsex metanfetamina

Por que a mistura de sexo e drogas representa perigo?

Mais conhecido como chemsex, uma abreviação para chemical sex em inglês, o sexo químico é o uso de substâncias psicoativas – geralmente sintéticas – nas relações sexuais. O intuito dos adeptos é melhorar ou prolongar a experiência.

No Brasil, o uso de metanfetamina está crescendo muito, especialmente nas cidades grandes. Inclusive, é a droga mais usada para o chemsex hoje. Mas outras substâncias, como o GHB (gama-hidroxibutirato), o LSD e mesmo a cocaína continuam sendo muito usados também no sexo químico. E não é incomum que outras drogas estejam envolvidas no momento, como o álcool, o viagra e os poppers – conhecidos como a “droga do amor”.

Motivações para engajar no chemsex

Ainda precisa haver mais pesquisas a respeito das vivências subjetivas das pessoas ao engajar com o chemsex, bem como do que as leva a experimentar e continuar a prática.

Autores de um estudo publicado no Journal of Sexual Medicine em 2021 tentaram trazer luz ao tema. Eles entrevistaram por telefone 31 homens italianos cisgêneros que têm relações sexuais com homens, e que tiveram pelo menos uma experiência de chemsex, para entender os efeitos na resposta sexual, as motivações e como a experiência se compara ao sexo sóbrio.

Apesar das respostas mais diversas, o estudo trouxe um resumo do que os entrevistados mais reportaram.

  • motivos sexuais: muitos mencionaram sentir maior excitação e prazer sexual como seus principais motivos para praticar sexo químico;
  • motivos sociais: a pressão social das parcerias também foi citada como a principal razão para experimentarem e continuarem a prática do chemsex;
  • mudança de motivos ao longo do tempo: embora muitos tenham relatado ter experimentado o chemsex pela primeira vez por curiosidade e desejo de viver uma experiência nova, alguns reconheceram que continuaram a praticar devido a um forte desejo pelas substâncias.

Muitos especialistas também falam que a inibição, a baixa autoestima e a dificuldade em aceitar a própria sexualidade (lembrando que o chemsex é muito praticado por homens que fazem sexo com outros homens) também pesam na decisão de usar psicoativos nas relações sexuais.

Efeitos das substâncias químicas no sexo

O estudo com os italianos levantou os seguintes efeitos da prática do chemsex na experiência sexual:

  • aumento do desejo e da excitação: muitos dos participantes disseram que os psicoativos permitem que eles se sintam extremamente excitados por um período prolongado;
  • desinibição: também houve muitos relatos de se sentirem mais relaxados e desinibidos durante o chemsex em comparação com quando estão sóbrios;
  • aumento do prazer sexual: alguns também notaram um aumento significativo no prazer sexual com o uso das substâncias químicas;
  • dificuldades de ter ereção: outra resposta comum foi a dificuldade em obter ou manter uma ereção durante o uso dos químicos;
  • variedade de comportamentos sexuais: com a prevalência de dificuldades de ereção durante o chemsex, muitos disseram que adotaram outros comportamentos sexuais que não envolvessem uma ereção;
  • sexo prolongado e ejaculação retardada: como os psicoativos podem afetar o tempo que uma pessoa leva para ejacular (ou até impedir a capacidade de ejaculação), muitos relataram que o sexo químico geralmente dura mais tempo do que o sexo sóbrio;
  • intimidade: talvez pela desinibição proporcionada pelas drogas, muitos perceberam um sentimento de intimidade com as novas parcerias, mas alguns reconheceram que essa sensação era “diferente”, “falsa” e “não duradoura”;
  • depressão: a maioria dos indivíduos experimentou um declínio psicológico e físico após a prática do chemsex, com sintomas negativos como fadiga, tontura, irritabilidade, insônia, dificuldade de concentração, depressão e pensamentos negativos.

Riscos do chemsex

Além dos efeitos negativos citados pelo estudo, há ainda o risco do uso das substâncias levarem a uma dependência. As pessoas acreditam que só vão ter prazer com o sexo químico e por isso só buscam esse tipo de relação sexual. O sexo sóbrio, para elas, acaba ficando sem graça. Essa adição pode inclusive levar a uma overdose. A terapia sexual é uma excelente aliada para que o adicto consiga ressignificar tudo isso.

Também é perigoso que as pessoas se machuquem enquanto estão sob os efeitos das drogas, já que estão com a consciência alterada. Essa alteração também aumenta a vulnerabilidade do indivíduo com relação à contaminação por IST’s – infecções sexualmente transmissíveis.

As substâncias também podem aflorar uma hipersexualidade, bem como trazer problemas financeiros, de saúde, transtornos mentais (como agitação, paranoia, psicoses, depressões intensas e sentimentos suicidas) e até dificuldades de socialização, já que sob os efeitos das drogas as pessoas acabam se afastando de amigos e familiares. Ou seja, atrapalha a vida pessoal e também a profissional.

Interações com medicamentos também podem ser um risco.

Quando as substâncias tiram a consciência do indivíduo, ele já não se importa mais com as coisas que se importaria se estivesse sóbrio. Não cuida da saúde sexual, não liga para o dinheiro desperdiçado com o sexo químico, não escolhe suas parcerias do mesmo jeito.

E também podem ser levados a experiências sexuais que não fariam – e se arrepender depois. Ou podem até ser vítimas de abuso sexual.

É muito importante entendermos os efeitos e as implicações do chemsex na experiência sexual, e suas motivações, para que se criem políticas públicas que reduzam danos e promovam práticas sexuais seguras.

Gostou? Compartilhe!

Comentários

Você também pode gostar: