inteligência artificial

Confiar seus sentimentos a uma inteligência artificial pode parecer prático… mas será que é seguro para a sua saúde emocional?

Nos últimos meses, o debate sobre o uso da inteligência artificial em terapias psicológicas ganhou força no mundo todo. Eu mesma abordei o tema em uma palestra no Congresso da Sociedade Latino-Americana de Medicina Sexual – SLAMS 2025, em agosto. O assunto desperta atenção porque, ao mesmo tempo em que a tecnologia avança, surgem questionamentos sérios sobre segurança, eficácia e limites éticos.

O que está acontecendo no mundo

Illinois se tornou o primeiro estado dos Estados Unidos a proibir a inteligência artificial de atuar como terapeuta independente. A nova lei permite o uso da tecnologia apenas em funções administrativas ou como apoio suplementar, mas impede que a IA substitua o papel do psicólogo. A decisão foi tomada após o aumento preocupante de jovens que estavam recorrendo a chatbots para substituir a psicoterapia tradicional.

Especialistas consideram que estamos vivendo o maior experimento de saúde mental não controlado da história humana.

O uso da IA como “terapeuta” já é realidade

Segundo pesquisa da Sentio University, 48,7% das pessoas que relatam problemas de saúde mental já utilizam o ChatGPT como se fosse um terapeuta – não como complemento, mas como substituto da terapia. Muitas compartilham traumas, crises e angústias diretamente com a ferramenta. Entre os motivos, estão a dificuldade de pagar por uma terapia presencial, o estigma que ainda envolve o tratamento psicológico e a facilidade de acesso a plataformas de IA.

Um levantamento da Harvard Business Review (2025) reforça esse cenário: hoje, o principal uso do ChatGPT é justamente para “terapia” e “companhia”.

A inteligência artificial no Brasil

O Brasil vive um contexto ainda mais delicado. Somos o país com a maior prevalência de ansiedade do mundo e apresentamos índices alarmantes de depressão – a maior incidência da América Latina. Mesmo assim, grande parte da população com sintomas moderados ou graves não recebe qualquer tipo de tratamento. Essa lacuna faz com que muitas pessoas enxerguem na inteligência artificial uma alternativa mais acessível para lidar com questões emocionais.

Os limites da inteligência artificial na psicoterapia

É fato: a IA pode ajudar a organizar informações, sugerir reflexões e até simular acolhimento. Mas é importante lembrar que se trata apenas de um algoritmo. O acolhimento que ela transmite é, na prática, um acolhimento falso.

A psicoterapia real é uma relação entre pessoas. Ela exige empatia genuína, escuta ativa, vínculo emocional e técnica especializada – aspectos que nenhum robô consegue reproduzir.

Trocar a terapia com um psicólogo pela “terapia” com IA pode trazer riscos sérios: reforçar a solidão, atrasar diagnósticos, banalizar sofrimentos e até agravar quadros de saúde mental mais graves.

Qual deve ser o papel da tecnologia?

Isso não significa que a inteligência artificial não possa ter um papel positivo. Quando usada com responsabilidade, pode facilitar o acesso à informação, oferecer recursos de organização de dados e até apoiar profissionais de saúde mental em determinados processos. O problema começa quando a IA tenta substituir o encontro humano que caracteriza a psicoterapia.

Setembro Amarelo: tecnologia também pede cuidado

Neste mês de conscientização sobre prevenção do suicídio, é essencial lembrarmos que, quando falamos de saúde mental, não existe espaço para atalhos arriscados. A inteligência artificial pode ser uma aliada para gerar reflexões ou oferecer apoio inicial, mas ela nem de longe substitui a escuta e o acolhimento de um profissional qualificado. Em um tema tão delicado quanto a vida, o cuidado humano é insubstituível. Se você ou alguém próximo está passando por um momento difícil, procure apoio especializado – falar é sempre o primeiro passo para transformar.

Cuidado humano é insubstituível

A tecnologia pode ser uma grande aliada em muitos aspectos da vida, mas quando falamos de saúde emocional e também sexual, nada substitui o olhar humano, a escuta empática e a construção de vínculo com um profissional de confiança. É nesse encontro que a verdadeira transformação acontece.

No fim das contas, cuidar da saúde mental exige cuidado humano. Se você busca terapia, procure profissionais de psicologia ou psiquiatria devidamente habilitados. O acolhimento que realmente transforma só acontece de humano para humano.

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