Aquele clichê de que a adolescência é uma fase de descobertas é real. É nessa fase que se constrói muito do que será esse adulto dali uns anos

 

É pela semelhança que vamos criando vínculos e formando nossos círculos de amizades: a turma do fundão, dos nerds, dos moderninhos, dos estudiosos, dos gamers, dos skatistas, e por aí vai. Pense: como era a turma com a qual você cresceu e fez parte dessa sua fase? O que você carrega daquele tempo?

Essa necessidade de pertencimento é inerente ao ser humano, e na adolescência isso é ainda mais claro.

E no meio dessas descobertas de quem se é, do que se gosta, com quem se identifica, tem também a vivência da sexualidade. Na vida de algumas pessoas essa fase é um marco: a primeira paixão, o primeiro beijo, os primeiros desejos, a primeira transa. E tudo é muito intenso na adolescência, não é mesmo?

Alguns estudos dizem que as pessoas ‘não hétero’ experimentam seu primeiro desejo por pessoas do mesmo sexo por volta dos 8, 9 anos; enquanto outras pesquisas dizem que isso se dá por volta dos 11 anos.

Mas o que podemos afirmar com certeza é que não existe a idade exata, e que isso depende de muitos fatores. Alguns podem vivenciar essa atração com 8 anos, outros com 16 anos. E no meio disso as coisas ainda podem ir mudando. Como eu sempre falo nas minhas redes sociais, a sexualidade – em qualquer fase da vida – é fluida.

Em se tratando de sexualidade, talvez a diferença mais emblemática dessa geração de adolescentes, em relação às anteriores, é que eles se sentem mais livres para experimentarem antes de terem certezas quanto a sua identidade ou orientação. São bem menos moralistas. Ficar um dia com um menino e outro com uma menina é visto como natural por eles – mesmo porque realmente não há nada de errado com isso.

Por outro lado, há o grupo dos que se sentem pressionados por vivenciarem todas essas experimentações. Se sentem cobrados pelos amigos que estão mais “à frente”. Podem sofrer bullying até. Mas como falei acima, não existe uma idade certa para sentir atração ou querer beijar.

É legal que cada um respeite seu tempo – e seja respeitado quanto a isso. O que não pode é ser uma corrida de quem experimenta mais ou se define antes.

É preciso uma educação em sexualidade muito melhor e com um olhar muito mais contemporâneo e empático, tanto em casa como na escola, para que não seja uma fase marcada por bullying, traumas e pressões – internas ou externas -, que poderão refletir negativamente no adulto do futuro.

Os jogos sexuais querem dizer algo?

Lá pelos 8, 9 anos, numa fase pré-hormonal, ou até um pouco mais para frente, aos 12 ou 13 anos, é comum a brincadeira de mostrar o genital e ficar comparando entre os amigos.

Isso é pura brincadeira. É só uma curiosidade de querer comparar o corpo com o do outro. Não tem relação com orientação sexual ou afetiva e nem vai determinar a sexualidade do indivíduo.

É por isso que na sexualidade humana nós chamamos essas brincadeiras de jogos sexuais – e não jogos homossexuais, como muita gente fala.

Lembrando que esses jogos sexuais muitas vezes tem o toque no genital, e isso pode sim dar prazer, afinal é uma zona erógena. Mas não quer dizer que a pessoa está sentindo atração. Só quer dizer que uma zona erógena, se estimulada, vai gerar prazer.

Melhores formas de lidar com a adolescência

Rótulos para quê?

Estamos em constante mudança na vida. Mudamos status de relacionamento, amizades, emprego; e a sexualidade também pode ir mudando. Adolescentes de hoje encaram a sexualidade fluida como algo super normal. Eles se sentem muito mais abertos para conhecer diferentes tipos de parceiros sexuais e relacionamentos.

Numa pesquisa da Universidade da Carolina do Norte com a geração Z, cerca de 50% deles disseram se identificar como heterossexuais, e muitos afirmaram ser heteroflexíveis.

Menos romance na geração Z

A geração Z parece ter uma visão mais pragmática dos relacionamentos.

Apenas 1 em cada 10 querem firmar compromisso, segundo uma pesquisa com participantes do Reino Unido e dos EUA.

Num estudo similar da Índia, 66% responderam que entendem que “nem todos os relacionamentos serão permanentes”, enquanto 70% rejeitam uma “relação romântica limitadora”.

Fato é que eles não estão em busca de um único relacionamento, e sim pessoas diversas que atendam a necessidades diferentes, sejam elas românticas, sexuais ou outra coisa.

É normal se sentir confuso

Mesmo sentindo mais liberdade para ter experiências diversas, adolescentes podem ficar confusos quanto a sua orientação, identidade ou outra questão da sua sexualidade.

Pode ser estressante, por exemplo, caso não se identifiquem como não sendo nem do gênero feminino e nem masculino, ou se identifiquem com múltiplos gêneros, ou com nenhum gênero em particular, como não-binários, ou com um gênero que não é o do nascimento.

De olho na saúde mental

O desconforto por se sentir confuso quanto a qualquer questão da sua sexualidade pode gerar tristeza, solidão, baixa autoestima, queda de performance na escola, pressão por parte de amigos ou família, e isso pode levar a questões de saúde mental.

No mundo, 1 em cada 7 jovens dos 10 aos 19 anos sofre um transtorno mental, de acordo com a OMS. Depressão, ansiedade e distúrbios de comportamento estão entre os problemas mais comuns.

 

O suicídio é a 4ª principal causa de morte dos 15 aos 19 anos.

Não cuidar da saúde mental na adolescência leva a consequências que se estendem para a saúde física e mental da vida adulta, limitando oportunidades, inclusive no campo da sexualidade, que poderiam levar a uma vida plena.

Não esqueça:
  • a sexualidade não deveria ser encarada como um assunto tabu;

  • não se culpe pelos desejos que sente;

  • caso sinta que questões da sua sexualidade estão lhe causando sofrimento, fale com um adulto em quem você confie, como seu pai ou mãe, ou um professor da sua escola.

 

Se você é pai ou mãe de adolescentes

Para ser mais fácil estabelecer uma relação de confiança, construa um espaço:

  • seguro e livre de julgamentos;

  • com uma escuta ativa, inclusiva e respeitosa;

  • em que falar sobre sexualidade seja algo habitual;

  • com exemplos de pessoas de perfis diversos, nas quais os filhos possam se sentir representados;

  • em que não haja piadinhas, negação ou pressão;

  • se sentir que pode ajudar, procure apoio de um psicólogo;

  • e caso não se sinta confortável em falar sobre sexualidade com seus filhos, talvez por não ter tido isto na sua vida, ofereça para levá-lo em uma terapia sexual – o psicólogo pode auxiliar nesta educação em sexualidade.

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